A construção de uma sociedade mais livre, onde a diferença signifique uma mais-valia da heterogeneidade humana e não a estigmatização que legitima a subjugação, não passa pela acentuação dos marcadores externos que a ajudaram a produzir e reproduzir, mas sim pela desconstrução crítica daqueles eficazes e sinistros mecanismos de poder que sustentaram as mais odiosas políticas, leis e brutalidades.

E pela adoção de medidas ao nível das políticas públicas que podem ir de, pelo menos aparentemente, ‘moderadas’ a ‘radicais’ – essa é, justamente, a grande Arte da Política – e o envolvimento de todas as pessoas dispostas a construir uma sociedade verdadeiramente democrática, económica, política, social e culturalmente dialogante e integrada. Tanto quanto, é claro, isso é humanamente possível. 

Com todas as imperfeições que sabemos inevitáveis. A alternativa é a Revolução. Como tantas que devolveram ou tentaram devolver a dignidade aos dela privados, desde as Revoltas dos Escravos de Spartacus em Roma, dizimada pelos poderes do dia com crucificações ao longo da estrada de Roma a Cápua até às múltiplas Revoltas dos Transportados, Raptados e Escravizados em África para as colheitas do café, da cana do açúcar ou outra, sob o jugo do tronco, do chicote e da barbárie organizada (que bem a grande Toni Morrison conta isso mesmo em Beloved, de 1987, que lhe valeu um bem merecido ‘Pulitzer’ em 1988) até às Revoluções burguesas do século XVIII na América do Norte e na França e suas Declarações de direitos (altamente seletivas, ao contrário do que os textos sugeriam) e respetivas réplicas.