Foi justamente para ajudar a entender os contornos, o alcance, a gravidade e o verdadeiro peso (seriedade) do fenómeno em Portugal que foi criado o Observatório do Racismo e Xenofobia. Compreender as dimensões e modalidades das práticas discriminatórias em contextos institucionais, académicos, profissionais ou outros é um passo essencial para pelo menos se poderem construir sugestões de leis (por exemplo: Contraordenações ou Crimes em matéria de atos de discriminação racial?) ou políticas (Pôr em prática ‘ações afirmativas?Fiscalização levada a sério do cumprimento das regras já existentes? Ou perspetivas completamente diferentes?) – e, logo para começar, compreender o que já foi feito (investigação já realizada, que a há e excelente) e como desfazer o nó górdio dos riscos da excessiva equiparação identitária que deixe de fora a análise crítica dos perigos envolvidos (Como classificar indivíduos face a critérios científicos obviamente ultrapassados e desacreditados? A autoidentificação é a decisiva? A única? Haverá paralelo com a identidade de género, ou nenhuma aproximação ou semelhança? E nos Censos populacionais, como fazer, afinal, depois dos esforços do ‘Grupo de Trabalho’? O que resulta da Constituição nesta matéria? Deveria ser alterada? Como medir discriminação contra ciganos, africanos, brasileiros ou ucranianos se não sabemos quem – se não os identificamos – e quantos são?).

Muito trabalho há a fazer e muito esforço e persistência serão necessários. Contamos com a colaboração de quanto/as se quiserem juntar a nós para avançar na investigação, de base académica séria, que permita avaliar e diagnosticar a situação real e, partindo do que já foi e vai sendo feito por investigadores/as nesta área ou eventualmente conexas, construir propostas e ajudar a diminuir, desejavelmente erradicar, o racismo e a xenofobia que teimam em persistir na sociedade portuguesa. Trata-se, é importante insistirde um problema estrutural e institucional e não de uma questão moral individual de boas ou más intenções – claro que também o é, mas creio que não é nisso que um Observatório desta natureza encontra a sua razão e justificação de existir.

ML / TPB, dia 13 de Julho de 202