O termo racismo carrega desde logo na sua terminologia a ambiguidade colocada na diferença pelo agente autor da discriminação, sugerindo que há diferenças entre os seres humanos que podem ser objeto da atribuição de uma nova raça. Nada mais enganador, pois, de facto, os seres humanos pertencem todos a uma mesma espécie, a dos humanos, que se diferenciam (quando muito, dirão hoje alguns) de outras espécies de animais.

O racismo é antes de mais um sistema de poder e de subjugação entre seres humanos, resultante e simultaneamente constituinte de relações económicas, políticas, sociais e culturais desiguais. Enquanto sistema de poder, tem todas as características de um sério e pouco menos que insolúvel problema político, que assume diferentes expressões ao longo do tempo e dos contextos geográficos.

De uma forma simplista, muitas vezes, é reduzido a um conjunto de marcadores visuais facilmente reconhecíveis por todas as pessoas, mesmo das mais jovens, o que facilita a identificação da diferença e a sua estigmatização, como diria Erving Goffman. Ou seja, o uso social das diferenças para produzir e reproduzir um sistema de poder de uma parte dos humanos sobre a outra (ou outras). Diferenças que podem ser a cor da pele, as formas de vestir, de falar, ou as práticas e ritos de interagir socialmente. Simulando diferenças horizontais, de aparência, costumes ou crenças, disfarça a verdadeira distribuição desigual, vertical de poder e influência, que pode ir do ‘mero’ desprezo, desconsideração ou insulto até à pura destruição, tortura, violentação e homicídio. Ou genocídio, como tantas vezes aconteceu.

São disso exemplo máximo o colonialismo e o imperialismo europeus, que conduziram à quase extinção dos povos originais nas Américas e à escravatura dos povos africanos. Mas aconteceu, também, entre os povos europeus, sempre que se pretendeu criar um sistema de poder e subjugação. O mesmo aconteceu em outras civilizações, fora do ‘Ocidente’….